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UM PARÁGRAFO E UMA COLEÇÃO - OMA

Em casa, minha mãe possui uma latinha onde guarda vários botões, e entre eles, alguns forrados em tecido. E aqueles mini botões, já desbotados pelo tempo, me preencheram um espaço que eu ainda nem sabia existir! Bom, voltemos um pouco. Nos primeiros projetos de moda da faculdade, sentia falta de uma bagagem cultural o suficiente para escolher um tema de coleção para me inspirar. E de fato, não tinha um gosto por música, livro ou filme tão interessante assim! Eu terceirizava essa etapa às outras pessoas do grupo, e então mergulhava naquele tema proposto, desenhando a partir da minha interpretação.


Coleção L40.0 - Look Comercial

Mas, como tudo não são flores, chegou o momento em que o projeto se tornou individual, e eu não tive escolha. E como esse momento foi importante! Tive que encarar o fato de que precisava entender, ou pelo menos iniciar essa busca de entender o que me inspirava verdadeiramente para criar, a minha identidade na moda. Pesquisa vai, pesquisa vem. E cheguei ao desenvolvimento de uma coleção (L40.0) em que ressignifiquei um momento bem doloroso da minha vida, trazendo significado e cor. E foi aí que a ficha caiu. Em todos os outros projetos existia uma pitada de algo a ser transmutado em mim, inconscientemente. Eu só ainda não havia percebido, fluía de uma forma muito natural. Ufa! Que alívio!

E os botões lá do início?! O que de tão especial eles possuem? Foram forrados por minha mãe quando criança, junto com a minha avó, costureira, que não tive o privilégio de conhecer. Mas apesar disso, sinto que através dela, se fez uma das ligações entre Karol e moda. E esses botões, que carrego comigo até hoje, são a representação dela junto a mim nessa caminhada. E sabendo que eu precisava de "algo além" dentro de um tema, para que me conectasse com ele e criasse, senti a necessidade de entender mais sobre ela, sobre meus antepassados, e assim, a mim mesma. Ainda em Morro Redondo (cidade onde cresci e morei por 23 anos) iniciei essa busca, e meu tio, Geraldo, contou a história que a minha bisavó Marta narrou a ele.

Uma história linda de encontros, desencontros e reencontros, que gostaria tanto de retratar em uma coleção, mas estava completamente travada. Hoje, em Porto Alegre, percebo que eu estava perto demais para enxergar além das fotos e fatos. Para criar, foi necessária a distância e um olhar com um tempero a mais de saudade, amor, encanto. E, para quem não conseguia uma coleção dela, criou mais tantas outras. Cada pequeno acontecimento, uma conexão, uma ideia, que vinha junto com o entendimento dos meus traços. E, sem mais delongas, essa história se iniciou na Alemanha, no século XIX, com uma família que trabalhava em uma fazenda cuidando de animais. Pressupõe-se que moravam em uma casa redonda, e, que no inverno, queimavam estopas de folhas mortas recolhidas do chão para se aquecerem. Recebiam somente para o seu sustento, e então, buscando uma forma de geração de lucro, juntavam as penas de gansos que caíam no chão, e as lãs de ovelhas que se enroscavam nos arames. OK. Bastou esse parágrafo para que a minha curiosidade fosse nas nuvens. Como era essa casa redonda? O que eles faziam com essas penas? E as lãs? Quais as raças desses animais? Será que consigo encontrar no Google Maps a região e dar um "passeio" virtual por lá? Infelizmente muitas dessas perguntas/ vontades não consegui solucionar, mas encontrei nas formas, linhas e texturas, uma maneira de traduzir isso em roupas. Seja através da matéria-prima como a lã, até a silhueta dos gansos com as suas curvas. É isso? Por enquanto, sim. Mas o que eu quero te dizer aqui, é que não é necessário reinventar a roda, ter viagens para fora do país para conseguir se inspirar (apesar de ser nada mau), ou seja lá o que for. Por vezes, precisamos só de um parágrafo, contado por alguém da nossa família, para que uma linda história através de tecidos seja costurada, basta que ela nos represente!

E sabe essa família? Foi parar lá em Morro Redondo... Mas essa é uma parte a ser contada mais à frente. Um beijo, Karol.





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